domingo, 31 de julho de 2011

CRÔNICA: SAUDOSISMO

          Em raros momentos de absoluta falta do que fazer me pego pensando no meu tempo de criança em Botafogo.
            Porém, vários outros motivos me transportam facilmente a esse tempo maravilhoso; quando converso com meus irmãos, todos bem mais velhos que eu, ao ver uma foto da época, quando ouço falar em determinado ano, principalmente da década de 60 e mais forte ainda quando passo pela rua em que morei e nas outras próximas.
            As pessoas mais velhas, principalmente as mulheres, punham as cadeiras na calçada e, sentadas, conversavam uma com as outras vendo a noite passar naqueles dias de verão.
            Eu puxava um carrinho por um fio que também ligava a duas lâmpadas que eu acendia radiante de noite.  À medida que o carrinho andava iluminava o caminho escuro de modo bem singelo, naturalmente, mas o suficiente para encantar uma criança, daquela época, no caso eu.
            Em certos dias, para combater os mosquitos, passava o “fumacê”, era como se chamava um caminhão que passava soltando uma fumaça densa que invadia a rua e até mesmo a avenida em que eu morava, nos deixando com muito pouca visibilidade, aproveitávamos então, para brincar no meio dela antes que dissipar-se totalmente.  Algo parecido com um nevoeiro muito forte, só que com um cheiro ruim, muito  desagradável.
            Sim, sou saudoso desse tempo que tinha todos os ingredientes para também ser saudoso, mas nesse caso, no sentido de produzir saudades.  Não sei se o mesmo saudosismo acompanhará as crianças de hoje, sinceramente acho que não.
            Com algumas exceções, como nada na vida é totalmente perfeito, num contexto geral era muito bom viver naquela época, principalmente no que se refere à violência, que não se compara aos dias de hoje.  As pessoas eram mais humanas, cumprimentavam-se, respeitavam-se mais, a educação existia, diferentemente de hoje, onde o ser humano impregnou um egoísmo ao seu caráter que até mesmo a morte de alguém já não causa tanto impacto, passa-se por cima de um cadáver na rua como se transpuséssemos uma pedra do nosso caminho tamanha banalidade atual.
            Mas o ponto que realmente quero chegar é no fato de como sentir saudade de um tempo que não se viveu, que é também o que acontece comigo, quando vejo fotos dos dois últimos séculos, invade-me uma espécie de nostalgia, uma sensação de “Déjà vu” como se já tivesse vivido àquela época. Tento encontrar uma palavra que exprima esse tipo de sentimento, mas desconheço.  Não sei sequer se existe essa palavra.  Atacando de neologista poderia sugerir uma expressão, “nostalsismo atemporal”.  Acho que ficou horrível, neologismo não é comigo.
            Continuarei com meu saudosismo, simplesmente, sem intrometer-me em áreas que não domino, senão, do contrário ninguém sentirá saudades minha.  Mas, se alguém souber da existência desta palavra ficarei agradecido pela informação.
                 Na verdade o saudosismo, para mim, trás dois tipos de sentimentos: prazeroso por lembrar um tempo gostoso, mas triste por jamais voltarmos a vivê-lo.


           
           

Um comentário:

  1. CARACA O VELHINHO TA INSPIRADO,VOU COLOCAR VOCÊ NUMA PAGINA DE JORNAL. PARA FAZER TODO MUNDO LEMBRAR DE COMO ERA BOM VIVER ANTIGAMENTE.
    ANDREA

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